Atualidades e psicologia
Férias produtivas e saúde mental infantil.

Como equilibrar descanso, brincadeiras e vínculos afetivos
Férias escolares são esperadas com entusiasmo por crianças, pais e responsáveis, mas também representam um desafio importante: como equilibrar o merecido descanso com uma rotina que evite o tédio ou o excesso de telas? Como cuidar da saúde mental dos pequenos e ainda estimular o desenvolvimento emocional e criativo nesse período?
As férias podem, e devem, ser um tempo de descanso genuíno, mas também de estímulos positivos. A boa notícia é que, quando bem planejadas, elas favorecem o desenvolvimento emocional, social e criativo das crianças, contribuindo diretamente para a saúde mental e para o fortalecimento dos vínculos familiares. O equilíbrio entre descanso, brincadeiras, leveza e presença afetiva torna esse período mais saudável e prazeroso tanto para os filhos quanto para os pais.
Rotina flexível: segurança emocional com leveza
Durante o ano letivo, a rotina escolar organiza o cotidiano das famílias. Quando essa estrutura muda, é comum surgirem comportamentos como irritabilidade, agitação, dificuldades para dormir ou maior resistência aos combinados da casa.
Nas férias, não é necessário manter a mesma rigidez dos dias escolares, mas uma rotina mais leve e flexível pode ser extremamente benéfica. Ter horários aproximados para acordar, se alimentar e dormir preserva o ritmo biológico, evita desequilíbrios de humor e proporciona segurança emocional e previsibilidade, elementos fundamentais para o bem-estar das crianças.
Brincar é coisa séria
O brincar vai muito além de um passatempo. É uma atividade essencial para o desenvolvimento da linguagem, das habilidades sociais e cognitivas, e também um importante canal de expressão emocional. É brincando que as crianças exploram o mundo, desenvolvem sua identidade e constroem autonomia.
Oferecer atividades que envolvam criatividade, movimento e imaginação ajuda a manter as crianças engajadas e emocionalmente saudáveis. Brincadeiras como:
- contação de histórias,
- interpretação de personagens,
- uso de fantasias, teatrinhos,
- circuitos motores simples,
- massinha de modelar,
- desenho livre,
- pintura ou montagem de brinquedos
… atravessam diferentes idades e estimulam o desenvolvimento integral, cognitivo, afetivo e social.
Brincar de acordo com a idade
Para que a brincadeira seja prazerosa e educativa, é importante respeitar o estágio de desenvolvimento da criança:
- Crianças de 2 a 6 anos: atividades sensoriais, exploração de objetos, jogos de faz de conta, danças, esconde-esconde, empilhar blocos, brincar de casinha.
- Crianças de 7 a 14 anos: oficinas criativas (culinária, jardinagem, artesanato), jogos de tabuleiro, desafios em grupo, produção de histórias em quadrinhos ou vídeos, e pequenas responsabilidades na rotina da casa.
Mais do que preencher o tempo, essas experiências ajudam a criança a se expressar, a se conectar com o mundo e a fortalecer vínculos afetivos.
E as telas?
É natural que o tempo de tela aumente nas férias. Mas, quando o uso se torna excessivo, pode trazer efeitos negativos como irritabilidade, queda na interação social, dificuldades no sono e na atenção.
A recomendação não é proibir, mas sim estabelecer limites claros com diálogo e respeito, oferecendo também alternativas envolventes: assistir a um filme em família, jogar juntos ou planejar atividades offline. O importante é manter uma postura próxima e participativa, escolhendo conteúdos apropriados e acompanhando, sempre que possível, o que está sendo assistido.
Isso ensina a criança a lidar com o mundo digital com mais autonomia e consciência, fortalecendo a saúde mental e o vínculo de confiança com os adultos.
Nem tudo precisa ser planejado
É essencial lembrar que férias produtivas não significam agenda cheia. O descanso, o silêncio e a ausência de atividades dirigidas também têm um papel importante: ajudam a criança a entrar em contato consigo mesma, a se escutar e a desenvolver autorregulação emocional.
Férias produtivas não são sobre fazer mais e sim, viver com mais presença e sentido. Cuidar da saúde mental das crianças durante as férias não exige perfeição, mas sim um olhar sensível e atento às necessidades emocionais de cada uma.
Entre rotina, brincar espontâneo e criatividade, os vínculos se fortalecem. E é nesse espaço afetivo que se constrói uma infância acolhedora, saudável e significativa. Um tempo de qualidade que abraça corpo, emoções e imaginação, e que planta sementes de bem-estar para toda a família.
Autora:Psicóloga Sellene Sousa
CRP 09/19070