Atualidades e psicologia
Como lidar com um parceiro viciado em jogos?

🎴 Solta a carta: a psicologia por trás do vício em jogos de aposta
Jogos eletrônicos se popularizaram em 1970. O objetivo era simples: testar sua habilidade, reflexos e estratégias. A diversão estava em melhorar, conseguir uma pontuação mais alta, dominar a técnica.
Já os jogos de aposta existem há milênios: dados, cartas, roletas… Sua lógica sempre foi a “sorte”.
Qual é a diferença?
🎮 O jogo como ATIVIDADE (Explorar, socializar, competir)
Você joga para explorar, socializar, competir, se distrair.
A recompensa é a experiência.
Você constrói algo, conversa com amigos, segue uma história.
Mesmo perdendo, você participou de uma atividade.
💸 O jogo como APOSTA (Esperar, torcer, arriscar)
Agora, pense nos jogos de aposta, como o Jogo do Tigrinho e as bets esportivas.
Embora a ação pareça diferente, de um lado, apertar um botão; do outro, escolher um time,a lógica é a mesma: sua principal ação é arriscar dinheiro em um resultado que você, no final, não controla.
Você não joga para socializar ou explorar; você joga pela adrenalina da expectativa e pela promessa de um futuro financeiro melhor.
Uma armadilha que frequentemente leva a dívidas, desespero e até suicídio.
Por que esses jogos são tão viciantes?
Para entender, precisamos falar sobre um mecanismo chamado Reforço Intermitente.
O nome é complicado, mas a ideia é simples.
Imagine duas situações:
🟢 Comprar pão (recompensa PREVISÍVEL):
Você vai à padaria, paga por 5 pães e recebe 5 pães.
Não há suspense e emoção na transação. Você não fica obcecado(a) pela ideia de ir à padaria.
🔴 Jogo do Tigrinho (recompensa IMPREVISÍVEL):
Você aperta o botão. Às vezes, não vem nada. Às vezes, você ganha um pouco.
E, muito raramente, você pode ganhar um prêmio grande.
Você nunca sabe o que vai acontecer.
E é exatamente essa imprevisibilidade que te vicia.
O que acontece quimicamente?
Toda vez que você está prestes a descobrir o resultado da aposta, seu cérebro libera um neurotransmissor chamado dopamina.
A dopamina é associada à motivação e ao prazer.
O ponto crucial é este:
O maior pico de dopamina não acontece quando você ganha, mas sim na ANTECIPAÇÃO da possível vitória.
É a adrenalina do “e se agora eu ganhar?”. É a esperança, a tensão no segundo antes de as figuras pararem de girar.
O reforço intermitente cria um ciclo de vício por 3 motivos:
- Esperança vicia:
Como a recompensa é incerta, o cérebro se mantém em estado de alerta e esperançoso, liberando dopamina constantemente. - A memória da grande vitória:
O cérebro ignora as centenas de perdas e se apega intensamente à memória daquela única grande vitória (ou da história de alguém que ganhou muito), usando-a como combustível para continuar jogando. - “Ah, mas e se…?”
É muito mais difícil abandonar um comportamento quando a recompensa é imprevisível.
Você sempre pensa: “e se a próxima vez der certo?”.
Em resumo: seu cérebro não vicia no prêmio. Ele vicia na eletrizante e dolorosa esperança da próxima jogada.
É por isso que parar não é uma questão de “força de vontade”, mas sim de lutar contra um mecanismo neuroquímico profundamente arraigado.
Quando jogar se torna um problema?
O diagnóstico do vício em jogos não é determinado pelo número de horas jogadas, mas sim pelo prejuízo funcional e pela perda de controle.
Alguns sinais:
- Preocupação excessiva: Você pensa em jogar constantemente, mesmo quando está fazendo outras atividades.
- Perda de controle: Você já tentou reduzir ou parar de jogar e não conseguiu.
- Sintomas de abstinência: Você sente irritação, ansiedade ou tristeza quando não pode jogar.
- Fuga psicológica: Você usa os jogos como uma maneira de escapar de problemas.
- Prejuízos: O seu hábito de jogar já causou problemas significativos em seu namoro/casamento, trabalho, estudos ou outras áreas importantes da sua vida.
- Engano: Você já mentiu para familiares ou amigos sobre a quantidade de tempo ou dinheiro que gasta nos jogos.
Se você se identifica com a maior parte desses pontos, pode ser um sinal de que o jogo deixou de ser uma escolha e passou a ser uma compulsão que precisa de atenção profissional.
Há solução?
O ciclo de dívidas, mentiras e angústia gerado pelas apostas não se resolve sozinho.
Ele escala.
A neurociência comprova que o cérebro pode ser retreinado, e a psicoterapia oferece as ferramentas para isso.
Se você sente que está preso nesse ciclo, procure ajuda profissional.
Autora: Psicóloga Victória Novais Barros
CRP: 09/17648