Atualidades e psicologia
Será que a ausência de ciúmes é sinal de confiança ou de desinteresse?

“Se ele não sente ciúmes, será que realmente me ama?”
Essa é uma dúvida muito comum, que aparece direta ou indiretamente no consultório. Em um mundo onde o ciúme é frequentemente romantizado como prova de amor, a ausência dele pode causar estranheza, insegurança e até frustração.
Mas será que o ciúme é realmente um termômetro confiável do afeto?
O que é o ciúme?
O ciúme é uma emoção complexa, geralmente desencadeada pela percepção, real ou imaginada, de uma ameaça à relação afetiva. Ele pode envolver medo de perda, insegurança, raiva ou tristeza, e se manifesta de formas muito variadas, que vão desde uma leve inquietação até comportamentos controladores ou agressivos.
Podemos classificar o ciúme em três tipos:
- Ciúme normal: surge de maneira transitória, quando há uma ameaça real à relação, colocando a pessoa em estado de alerta.
- Ciúme projetado: acontece independentemente da existência de uma ameaça real, sendo baseado em fantasias ou medos infundados de traição ou troca.
- Ciúme delirante ou paranoico: é uma forma extrema, muitas vezes associada a distúrbios psíquicos, como a paranoia, que transforma a fantasia em uma suposta realidade, podendo se manifestar de forma violenta ou raivosa.
O que influencia o ciúme?
A forma como cada pessoa vivencia o ciúme (ou a ausência dele) está profundamente ligada à sua história de vida, personalidade, estilo de apego e ao grau de confiança no relacionamento.
- Quem já teve experiências anteriores marcadas por traições ou abandono pode ter uma sensibilidade maior às ameaças (reais ou imaginadas).
- Traços como autoestima, tendência ao controle e neuroticismo influenciam a intensidade do ciúme.
- Pessoas com apego seguro tendem a confiar mais no parceiro e na relação, sentindo menos ciúme.
- Quem possui apego ansioso pode experimentar medo intenso da rejeição, alimentando o ciúme.
Além disso, uma relação construída com diálogo, transparência e segurança mútua tende a gerar menos ciúmes, não por falta de interesse, mas por confiança genuína.
Aspectos culturais
A cultura também tem um papel importante. Vivemos em uma sociedade que, muitas vezes, associa o ciúme masculino à virilidade e o ciúme feminino ao cuidado, reforçando narrativas em filmes, músicas e novelas que romantizam comportamentos possessivos.
E a ausência de ciúmes?
A ausência de ciúmes pode ser um sinal de maturidade emocional. Indica respeito pela individualidade do outro e segurança no vínculo.
Um parceiro que confia no relacionamento pode não se sentir ameaçado por situações que, em outros contextos, causariam ciúmes. Assim, a ausência de ciúmes pode representar uma forma diferente e mais saudável de amar, que valoriza a liberdade, o respeito e a confiança.
Para que essa dinâmica funcione, a comunicação é fundamental. Falar abertamente sobre como cada um entende e demonstra carinho, afeto e preocupação ajuda o casal a se alinhar emocionalmente.
Atenção à apatia emocional
É importante diferenciar a ausência de ciúmes da apatia emocional. A indiferença envolve falta de envolvimento afetivo, desinteresse e ausência de conexão, nesse caso, o problema não é a ausência de ciúmes, mas a falta de vínculo.
Repensando o ciúme como prova de amor
Talvez seja hora de repensar a ideia de que “quem ama, sente ciúmes”. Amar também é confiar, dialogar, respeitar, permitir que o outro seja livre e, mesmo assim, escolher estar junto.
Se o seu parceiro não sente ou não demonstra ciúmes, isso não significa necessariamente que algo está errado. Pode ser um convite para revisitar suas crenças sobre o amor e refletir sobre o que realmente você precisa para se sentir segura e amada.
Autora: Thaynara Araujo
CRP: 09/17648